Trabalho apresentado para a Disciplina de Língua Portuguesa e Brasileira: Pré-Modernismo e Modernismo I. Relato aqui após ler a obra e achar de grande valor para a literatura e para o estudo de nossa própria realidade, trata-se de uma obra muito atual e contextualizada.
ANALISE DA OBRA VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS EM RELAÇÃO A ANTROFORMIZAÇÃO E A ZOORMOFIZAÇÃO DAS PERSONAGENS
Na década de 30 o mundo sofria com a crise da bolsa de valores norte americana. O Brasil sofria uma revolução e a crise cafeeira. Nesse cenário a literatura voltou-se para a sociedade da época, principalmente nas novas condições de vida sub-humanas nas cidades e a miséria do povo esquecido no campo. Estes últimos são representados na obra Vidas Secas de Graciliano Ramos, onde as condições duras da terra endurecem e condicionam a vida dos nordestinos.
Neste romance regionalista, estão presentes características comuns ao naturalismo, principalmente do determinismo, que vigorava na época. A antropoformização e a zoomorfização, são duas dessas características.
O primeiro se dá na caracterização da personagem Baleia. Baleia é a cadela que acompanha os sertanejos em sua fuga da seca, contudo, a cadela é apresentada e cuidada como parte da família, representada com sentimentos e pensamentos tipicamente humanos, e acima de qualquer pensamento do restante da família. Tanto que a cena mais emocionante do livro é a parte em que é narrada a morte de baleia, que em meio a sua agonia pensa em sua vida, e ainda lembra que era seu dever vigiar as cabras, fonte de alimento da família, ou seja, o dever se zelar pelos seus. A cadela tem consciência e sentimentos que vão além da fidelidade canina, são sentimentos "fraternais".
O trecho "ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo(...)'', bem como os trechos "Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era levantar-se, conduzi-los ao bebedouro." e "Uma angustia apertou-lhe o coração. Precisava vigiar as cabras [..] Felizmente os meninos dormiam na esteira." são exemplos dessa "humanização" da cadela. (RAMOS, 1992)
Em contrapartida, a personagem do chefe de família Fabiano, é animalesca, como acontece com toda a família, o vocabulário de Fabiano é escasso, sua comunicação é rara e extremamente desajeitada. O homem sertanejo é constantemente comparado a animais de modo que ele mesmo admite ser um. Condicionado pelo meio hostil, Fabiano vive a procura de trabalho, mas bebe muito, chega a perder dinheiro em jogo por sua ignorancia, e assim vai se endurecendo e se fechando, como resultado das situações que vive no meio em que habita.
O próprio Fabiano se reconhece de forma animal "E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros", é tão forte seu reconhecimento que chega a dizer em voz alta "- Um bicho, Fabiano". E ao seguir a construção da obra o autor vai descrevendo Fabiano "os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco", "Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra." e "As vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos - exclamações, onomatopéias. Na verdade falava pouco''.
Sendo assim, a obra de Graciliano é fundamental para o estudo da literatura na década de 30 e para o modernismo nesta fase em virtude da sua profundidade e contextual idade, principalmente, se reconhecermos que ainda existem seres humanos submetidos ao meio escravo e miserável ainda hoje, mesmo que por condições diferentes.
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